"A memória é a nossa coerência, é a razão, as ações, os sentimentos. Sem ela, não somos nada." Assim é o filme de Tess Martin, “The Lost Mariner”. E é com esta citação do mestre da vanguarda surrealista Luis Buñuel, que melhor conseguimos resumir e encapsular tudo o que esta maravilhosa curta-metragem tem para nos dizer. Baseada no trabalho literário do neurologista Oliver Sacks com o título “The Man Who Mistook His Wife for a Hat”, sobre pacientes com distúrbios mentais muito particulares, Tess Martin centra-se numa dessas histórias para dar-nos uma lição da importância da memória e do nosso passado, pois estes dão relevância à vida. Exibida em mais de 30 festivais, venceu em 2015 o Underexposed Film Festival, o Snake Alley Film Festival, o American Documentary Film Festival e o Seattle Shorts Film Festival. É de destacar com grande louvor a técnica de animação usada neste filme. Recortes de fotografias animadas em stop-motion de forma irrepreensível. Não só é visualmente apelativo, como visualmente metafórico visto a fotografia ser o elemento fisico com maior relação directa com o passado e a memória. Também os recortes de fotos claramente destacados da realidade podem ser considerados alusivos à mente do paciente e a sua memória fugaz, como que um marinheiro perdido em alto mar.

Animação

The Lost Mariner

Daniel Sousa, autor de curtas como "Fable" e "Minotaur", apresenta-nos "Feral", uma curta premiada e nomeada a Óscar, que nos dá asas para contemplar e meditar sobre a forma como a sociedade acolhe um chamado "outsider", um alguém sem os valores e atitudes rotuladas como normais. "Feral" permite-nos acompanhar o percurso de uma criança desprovida de qualquer contacto anterior com humanos ou qualquer tipo de valores sociais. Quando é encontrada por humanos civilizados é submetida a uma inserção social. Com a floresta como berço e os lobos como exemplo, será possível a conciliação dos seus costumes com a nossa sociedade ?

Drama

Feral

Hoje, especialmente, a equipa do Curta&Meia, decidiu dar a conhecer esta curta-metragem tributo ao realizador Hayao Miyazaki. Este realizador, que completa hoje, dia cinco de Janeiro, setenta e cinco anos, realizou vários filmes anime de culto assim como filmes de curta duração. Obras como _My Neighbor Totoro, Princess Mononoke, Spirited Away, Ponyo, _entre outras, encheram e enchem corações de miúdos e graúdos. A curta a cima é uma estonteante viagem pelos filmes do realizador, capaz de deixar qualquer fã de lágrimas nos olhos. Visualmente hipnotizante e sonoramente extasiante, este tributo, já bem conhecido pela comunidade que admira este realizador e o Estudio Ghibli, vale a pena ver e rever. Os filmes de Miyazaki, populares pelos tributos, menções e influências nos novos cineastas, são vistos por estudantes de cinema, amantes, apreciadores da sétima arte, curiosos, em familia, sozinhos, na alegria, na tristeza, hoje e amanhã. A sugestão fica dada e nós, no C&M, vamos aproveitar e rever este tributo.

Tributo a Hayao Miyazaki (especial 75º aniversário)

A nossa relação com o medo é multifacetada. Uns receiam falar em público, outros temem serem confinados a espaços fechados, e muitas vezes amaldiçoam o próprio terror que prejudica o seu dia-a-dia de forma constante. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que é esse instinto primitivo que nos salva em certas situações, e que sem querer nos define como seres humanos. **Fears** é uma curta-metragem de animação que explora esta dualidade inerente à sensação de medo. Realizado e animado por Nata Melukh da Universidade de Vancouver, o filme venceu vários prémios em festivais como **Fantoche** (Suíça, 2015), **Insomniafest** (Rússia, 2015), entre outros, como o nacional **Cinanima** (Portugal, 2015). Na curta, um jovem rapaz estica o telemóvel para tirar algumas selfies, mas quando olha para o ecrã repara em vários pontos obscuros ao ombro dos transeuntes atrás de si. Estas figuras tenebrosas representam os medos íntimos daquelas pessoas, que são então explorados de forma caricata ao longo dos dois minutos de fita. Melukh utiliza a animação colorida para contrastar com o cinzento sem vida a que costumamos associar à negativa emoção. Assim, a realizadora cria com sucesso um mundo vibrante de cores que veiculam a dupla significação atribuída ao medo: o obstáculo aterrorizante, mas também a rede de segurança que nos mantém ancorados a esta vida oh-tão-mortal.

Fears

“An Object at Rest” ou “Um Objeto Em Repouso” é uma comédia de animação, em 2D, que segue a história de vida de uma rocha, enquanto viaja ao longo de um milénio e enfrenta o maior obstáculo da Natureza: a civilização humana. Realizada por Seth Boyden, aluno do Instituto de Artes da Califórnia (Cal Arts), na sua tese final, com a composição de Julian Beutel e o som de Pin-Hua Chen, é uma curta-metragem brilhantemente animada, bem desenhada e com uma palete de cores muito imaginativa, que fazem lembrar aguarelas. Seth Boyden refere que teve a ideia quando viu pedacinhos de rochas na rua e se perguntou onde é que as rochas estariam estado antes, considerando que o que aconteceu ao longo de vários séculos da história humana, seriam apenas alguns segundos, na perspetiva de uma rocha, começando assim a desenvolver o passado da rocha, história esta que lhe levou 9 meses a completar. Começando desde os primórdios da Terra, passando pela Guerra Civil Americana e chegando, até, a vivenciar a época da exploração espacial, a nossa protagonista irá viver experiências muito intensas, por vezes engraçadas, algumas vezes melancólicas, estando num ciclo permanente de destruição e de reconstituição. Newton dizia, na sua 1ª Lei, que “um objeto em repouso, tende a permanecer em repouso”, mas esta rocha não parece sofrer dessa sorte, para felicidade dos nossos leitores.

An Object at Rest

Estamos em 2150 onde existem os mais variados Aliens a viver pelo espaço. Johnny é um homem de entregas no espaço que viaja para diferentes planetas para fazer chegar as encomendas. Ele é também bastante preguiçoso e tira partido do avanço tecnológico da altura para dormir e viajar em piloto automático. Assim que chega ao destino, Johnny apenas precisa de entregar a encomenda. No entanto, nada correu como planeado, pois aquele é um planeta especial onde acontecem as situações mais bizarras enquanto este trata da entrega. Todo este enredo resulta numa bonita, e muito bem produzida, comédia de animação realizada por James (Kyungmin) Woo.

Comédia

JohnnyExpress

Um gigante feito de pedra faz de tudo para remendar um acidente. Uma espécie de monstro luta exaustivamente para impedir uma avalanche de um enorme rochedo, que segue em rota de colisão com uma pequena vila costeira. Apesar das suas boas intenções, o medo e precipitação típicos dos humanos faz com que as coisas não corram tal como planeado - tanto para os habitantes da vila como para o gigante. Esta pequenina curta tem a duração suficiente para nos deixar uma mensagem no fim...

A Tale of Momentum & Inertia

Contando história de um rapaz que nasce com as expressões faciais opostas às suas emoções, _Eggplant_ mergulha num enredo que se funde entre o real e o imaginário. Esta curta-metragem, realizada por Yangzi She e 2015, acumulou vários prémios entre eles, o Prémio especial do Júri, Beinjing Film Academy Animation Academy Awards (China), Melhor filme de Pós-Graduação Ivy Film Festival (U.S.A) e o Prémio de excelência, San Francisco Fil Awards (U.S.A). O realizador, estreou-se no mundo do cinema de animação em 2012, com a curta-metragem “_To The Fairest_”, que passou por vários festivais de animação, arrecadando sempre boas críticas. Desde então é neste ramo da animação que Yangzi She se mantem, contando já com seis curta no seu currículo. Porém é com este seu último trabalho que tem voado mais alto, recolhendo vários prémios e percorrendo inúmeros festivais, incluindo o Festival Cinenima (Espinho, Portugal).

Eggplant

Uma animação única e fantástica que nos leva numa pequena viagem por um futuro alternativo da raça Humana, onde as mulheres e as crianças foram praticamente erradicadas. Com um estilo incomum, e que se dobra sobre assuntos como o género, a sexualidade, entre outros. O tipo de desenho nesta animação, é surpreendente, a atenção dada aos detalhes e à caracterização do ambiente é soberba, onde existe um contraste entre a pouca beleza que Albert e Jonas vêm no mundo e o horror da doença e do que ela destruiu. Paw Charlie Ravn criou “To Venner” enquanto frequentava estudava na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca. Baseada numa ideia, que surgiu no meio de uma conversa com o Diretor de Arte e seu amigo Rasmus Berggreen, acabou sendo co-escrita por Anna Bro e por Paw Charlie. Ganhou, em 2011, o prémio da Academia Dinamarquesa para Melhor Curta entre outros. Foi mostrada em festivais, tais como o Fantasia International Film Festival e o Short Film Festival Sleepwalkers, entre muitos outros. Após o término de "Two Friends", Paw envolveu-se em mais um projeto, a terceira no seu repertório, mantendo o género. Num futuro onde as condições de vida são bastante severas, todas as mulheres e crianças estão mortas, com a exceção de dois amigos, Albert e Jonas. Os homens neste futuro, com o desaparecimento das mulheres, tornaram-se numa espécie de humano subdesenvolvido sem qualquer capacidade e inteligência. A única coisa que fazem é deambular pelas ruas, motivados pelo sentido de sobrevivência e desejo sexual. Jonas e Albert sobrevivem neste ambiente há um bom tempo. Estão instalados numa espécie de museu onde fazem o necessário. Albert conta uma lenda que fala de uma rapariga que apareceria e que esta rapariga ia ter o poder de salvar o mundo. Numa certa noite, após um encontro com os “homens”, Albert acorda e não encontra Jonas, decide então ir á sua procura. Numa pequena sala com um pouco de luz encontra Jonas e acaba por descobrir o seu maior segredo, que os vai levar numa corrida contra os “homens”, pelas suas próprias vidas. Qual será o segredo de Jonas?

Ficção científica

To Venner

"The Present" é uma curta de animação que nos leva a casa de uma família em que a criança diariamente joga videojogos. Poderia ser um dia como os outros, mas hoje a sua mãe trouxe algo diferente. Ao abrir o presente, o rapaz depara-se com um cão... mas um cão um bocado diferente dos outros. Com mais de cinquenta nomeações, entre eles vários prémios ganhos, esta curta mostra como a animação continua a ser uma area onde se deve investir e que deve ser explorada. Em suma, podemos aplaudir esta curta em todos os seus aspectos, tocando nos seus fortes a nível sentimental do espectador como a nível de animação.

The Present

A arte urbana é algo que cada vez mais vem ganhando mundialmente o seu espaço. Feitos geralmente com spray, é possível encontrar esse tipo de arte nas paredes de prédios antigos, em caixas de correios, nos passeios, e em tudo o que fizer parte do ambiente urbano. Mas, e se fosse possível dar uma nova vida à essas pinturas urbanas? É essa a proposta do artista italiano conhecido por Blu: unir as imagens estáticas da arte urbana com a arte da animação, transformando-as em imagens em movimento a partir da técnica de _stop-motion_. A curta _Big Bang Big Boom_ é um trabalho extremamente rigoroso e original, que utiliza a pintura e o próprio ambiente urbano como ponto de partida para contar uma história. Lançada em 2010 e com quase 10 minutos de duração, a curta retrata uma visão surrealista da evolução da vida terrestre: inicia com coisas abstratas, objetos geométricos, depois passa para a vida animal, e por fim, o surgimento e a evolução do homem. É descrita pelo próprio Blu como "um ponto de vista não-científico sobre o início e a evolução da vida... e como provavelmente poderia acabar". O estilo deste artista é marcado não somente pelo seu evidente surrealismo, mas também por ter começado a utilizar tintas para parede e não os tradicionais sprays, em 2001\. Para tanto, Blu utilizou rolos com hastes compridas de maneira a aumentar o alcance da superfície das suas pinturas - tal como podemos reparar nesta curta. O rigoroso trabalho do Blu leva a arte urbana a outro patamar, não só porque consegue dar vida a algo que é inicialmente imóvel, mas também porque trabalha com elementos genuinamente urbanos. É possível encontrar em alguns dos frames - que passam muito rapidamente - alguns automóveis e algumas pessoas a caminhar pela rua, fazendo parte também dos elementos urbanos. Por isso, esta é uma curta interessante de ser vista não só do ponto de vista narrativo, mas também do ponto de vista técnico. Brilhante.

Big Bang Big Boom

"Atama Yama", curta de animação escrita por Shoji Yonemura (Pokemon) e dirigida por Koji Yamamura, dá-nos a conhecer um personagem que, por viver na miséria, é intolerante ao desperdício de qualquer espécie. Após comer cerejas sem desperdiçar os respectivos caroços repara que uma plantinha cerejeira lhe cresce no topo da cabeça. A animação é soberba, a temática genial. Abordando desde temas sociais a ambientais de forma imensamente própria e extremamente expressiva, "Atama Yama (Mt. Head") vai "pôr a pulga atrás da orelha" de todos os espectadores.

Fantasia

Atama Yama (Mt.Head)

Jinxy Jenkins, Lucky Lou é uma curta de animação feita em 2014 que até agora arrecadou 6 prémios. Segue as aventuras do menos afortunado Jenkins, um rapaz triste e bastante azarado, e Lou, uma rapariga que é o completo oposto de Jenkins. Num dia como os outros, ambos seguem a sua vida normal, até que as suas rotinas colidem, literalmente e ambos acabam por cair num carrinho de gelados. Este é o projecto final de graduação de Michael Bidinger, nascido e criado nos EUA, e de Michelle Kwon, nascida nos EUA mas criada em Seul, para a Ringling College of Art & Desgn. Michael e Michelle são os génios por detrás desta excelente comédia romântica, não só a criaram como a realizaram. Esta curta estudantil já arrecadou 6 prémios pelo mundo inteiro, entre os quais Best Short no Hamburg Animation Festival, dois prémios “Audience Choice”. Um no Hamburg Animation Festival e o outro no Trinity Film Festival e ainda o “Critic’s Choice” no Blue Plum Festival. Fez também parte da seleção oficial de 8 festivais diferentes. Podemos associar esta curta a algo saído dos estúdios da Disney, o seu estilo é parecido, tanto no tipo de animação, como no desenho das personagens e na temática da história. O exagero das diferenças entre as personagens e as suas acções, tem o balanço certo, o que nos faz apaixonar pelas personagens e querer seguir o resto da sua aventura. O que será que acontece quando juntamos dois lados opostos da mesma moeda dentro de um carrinho de gelados desgovernado?

Jinxy Jenkins, Lucky Lou

Lembram-se daqueles peixinhos usados nos tratamentos de dermatologia? Pois bem, eles são chamados de [peixes-médico](https://pt.wikipedia.org/wiki/Peixe-m%C3%A9dico), ou usando o nome científico, os _Garra rufa. _Este é o nome desta curta metragem, realizada por Timothy Chan no seu terceiro ano em Sheridan College, no Canadá. A curta metragem leva analogia ao extremo, tornando-a numa metáfora interessante que explora a mente de um psicólogo. Existem aquelas perguntas que todos nos perguntamos como, "precisam os médicos de ir aos médicos?", "precisam os padres de se confessar?", "precisam os mecânicos de ir ao mecânico?". Acontece que por vezes conseguimos lidar facilmente com os problemas dos outros, mas no que toca aos nossos próprios problemas, somos tão impotentes como se fôssemos um paciente qualquer. Obrigado ao Tiago Azevedo pela sugestão desta curta!

Ensaio

Garra Rufa

A curta The Gift, realizada por Cecilia Baeriswyl no ano de 2013 traz de mão dada mais de 100 nomeações nos maiores Festivais Internacionais de curtas metragens, onde protagoniza as relações de tudo ou nada. A realizadora Cecília Baeriswyl possui um vasto currículo de curtas metragens realizadas como Juego de Mar. The Gift foi selecionada por mais de 100 festivais interncionais, entre eles Animamundi (Brasil), Animpact (Coreia do Sul), CutOut Fest (México), Busan (Coreia do Sul), Mar del Plata Film Festival (Argentina) e Siggraph (Ásia). “The Gift” é uma linda curta-metragem produzido por Cecilia Baeriswyl e dirigido por Julio Pot, que conta uma história de um casal normal. Quando ele lhe dá uma pequena esfera que tirou seu peito e ela não quer mais se separar desse presente. Uma história linda onde mostra o mais belo presente: o amor. Mostra desta forma que o amor é mais que um presente, uma vez que existe bem mais para oferecer. Tu dás tudo de ti ou ficas pela metade? Ficar pela metade significa perder meia história e ser feliz por parcelas, pensa nisso.